sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

CONFIRA NO BLOG DO PLANALTO: PRESIDENTE LULA É DESTAQUE NO FINANCIAL TIME, LE MONDE, E ANTES DESSE RECONHECIMENTO MUNDIAL, LOGO A SEGUIR ENTREVISTA A FOLHA DE SÃO PAULO AO JORNALISTA KENNEDY DE ALENCAR

Financial Times inclui presidente Lula entre os 50 nomes que moldaram a década

Por ser o líder mais popular da história brasileira, o presidente Lula foi escolhido pelo jornal britânico Financial Times como uma das 50 personalidades que ajudaram a moldar a última década. Segundo a publicação, “sob seu comando, o Brasil finalmente começou a confirmar seu enorme potencial e muitos, incluindo o Fundo Monetário Internacional (FMI), estimam que seja a quinta maior economia do mundo antes de 2020, trazendo mudança duradoura para a ordem mundial”.

Outras publicações internacionais também prestaram homenagem ao presidente brasileiro este ano. O jornal espanhol El Pais o elegeu Personalidade do Ano (ver aqui) e o jornal francês Le Monde o escolheu como Homem do Ano (aqui).

A lista inclui políticos, empresários, esportistas e artistas, entre os quais o presidente americano Barack Obama e o seu antecessor, George W. Bush; o primeiro-ministro russo Vladimir Putin; o presidente chinês Hu Jintao; o líder da Al Qaeda Osama Bin Laden; o criador do Facebook Mark Zuckerberg, o artista Damien Hirst, o biólogo Richard Dawkins e o fundador da Apple Steve Jobs.

“Não me estranha que este homem impressione o mundo”

O jornal espanhol EL País elegeu o presidente Lula Personagem do Ano 2009. Um caderno especial sairá publicado na edição deste domingo (13/12), em que destaca também outras personalidades, mas na edição de ontem (10/12), o jornal espanhol adiantou o artigo escrito pelo presidente do governo espanhol, José Luis Rodriguez Zapatero, sobre o presidente brasileiro. Sob o título “O Homem que Assombra o Mundo”, Zapatero diz que “sente profunda admiração” pelo presidente Lula desde que o conheceu, em setembro de 2004, quando a Espanha passou a integrar a Aliança Contra a Fome, liderada pelo presidente brasileiro, em uma cúpula organizada pelas Nações Unidas em Nova York.

Zapatero define Lula como um “homem honesto, íntegro, voluntarioso e admirável”. O presidente do governo espanhol prevê que o Brasil está próximo de ocupar um lugar no Conselho de Segurança da ONU e que se encontra perto de se transformar em uma potência energética. Ele destacou também a Copa do Mundo 2014, bem como o momento em que Lula, em Copenhague, ao conhecer o resultado da escolha do Rio para sediar os Jogos Olímpicos de 2016, o consolou:

Lula chorava de felicidade, como uma criança grande, porque o Rio de Janeiro acabava de ser escolhida cidade organizadora dos Jogos Olímpicos de 2016. A euforia que o inundava não o impediu de ter o valor necessário para vir me consolar porque Madri não tinha sido escolhida.

Zapatero conclui o artigo: “Não me estranha que este homem impressione o mundo.”

“Homem do Ano” do jornal “Le Monde”

O jornal francês Le Monde elegeu o presidente Lula o “Homem do Ano 2009″. Tão logo a notícia ganhou o mundo, sua reprodução se deu nas páginas dos principais jornais, colunas sociais e espalhou-se pela internet – a rede mundial de computadores.

A seguir, trechos de uma das matérias publicadas na internet sobre o prêmio:

“Aos olhos de todos, [Lula] encarna o renascimento [...] de um gigante”, diz o jornal.

Na edição, o “Le Monde” diz ainda que Lula criou uma nação democrática e dinâmica, que combate a pobreza enquanto promove o crescimento econômico.

“Participante do grupo dos países emergentes, mas também do mundo em desenvolvimento com o qual se sente solidário”, Lula “colocou firmemente seu país em uma dinâmica de desenvolvimento”.

O prêmio, explica o jornal, é resultado também da bem sucedida campanha de Lula para transformar o Brasil em ator internacional. “Diplomacia, comércio, energia, clima, imigração, espaço, droga: tudo o interessa e lhe diz respeito”, diz o artigo, assinado por Jean Pierre Langellier, correspondente do jornal no Rio de Janeiro.

O jornal destaca ainda que Lula encerrará seu mandato em 2010 sem pleitear por um terceiro mandato –tendência nas vizinhas Venezuela, Colômbia e Bolívia. “Seguiu sendo um democrata, lutando contra a pobreza sem ignorar os motores de um crescimento mais respeitoso com os equilíbrios naturais”, diz a publicação.

Lembrando os tempos de líder sindicalista, o jornal brinca com o então discurso de Lula contra o FMI (Fundo Monetário Internacional). “Hoje já não é o FMI que ajuda o Brasil e sim o inverso”.

O prêmio crava o bom momento vivido por Lula no exterior. No começo do mês, o jornal espanhol “El País” também concedeu a Lula o prêmio de “personagem do ano” e a revista britânica “The Economist” dedicou um número especial ao Brasil que trazia na capa o Cristo Redentor como um foguete, rumo ao espaço.

O editorial do Le Monde:

Pela primeira vez na sua história, o Le Monde decidiu nomear a pessoa do ano. “Sua” personalidade do ano. O exercício pode parecer arriscado ou banal. Quem escolher? Com que critérios? Em nome de que valores? Como se diferenciar de grandes e prestigiados veículos estrangeiros, como a revista “Time”, que já está muito à frente nesse caminho, elegendo a sua “Person of the year”?

Assim, nossas conversas lançaram o foco sobre o que nos une sob a bandeira do “Monde”. Uma vez que, há sessenta e cinco anos, o título do nosso jornal é um convite a um olhar global, optamos por uma pessoa cujos trabalho e reputação adquiriram uma dimensão internacional.

Procuramos escapar de escolhas forçadas que poderiam nos apontar para o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama (mas ele foi mais propriamente o homem de 2008 que o de 2009), também descartamos as personalidades “negativas”, embora a sua ação tenha sido fundamental na nova configuração global: Vladimir Putin e a sua tentativa de reconstituir o império soviético, Mahmoud Ahmadinejad, de quem cada palavra e cada ação é um desafio para o Ocidente.

Desde a sua criação, o Le Monde, marcado pela mente analítica de seu fundador, Hubert Beuve-Méry, pretende ser um jornal de (re)construção, senão de esperança; à sua maneira, veicula uma parte do positivismo de Auguste Comte, adota a causa dos homens de boa vontade. Portanto, para esta primeira eleição, que aliás pretendemos renovar a cada ano, foi com a razão e o coração que escolhemos o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, mais conhecido sob o simples nome de Lula.

Sentimos que pela sua carreira singular de antigo sindicalista, pelo seu sucesso na condução de um país tão complexo como o Brasil, pela sua preocupação com o desenvolvimento econômico, a luta contra as desigualdades e a defesa do ambiente, Lula bem merece… o mundo.

Entrevista ao jornal Folha de S. Paulo

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Presidente Lula concede entrevista a Kennedy Alencar e Alan Marques (fotógrafo), do jornal Folha de S. Paulo, em seu gabinete no Centro Cultural Banco do Brasil. Foto: Ricardo Stuckert/PR

A crise econômica, as eleições presidenciais de 2010 e a política nacional foram os temas centrais da entrevista que o presidente Lula concedeu ao jornal Folha de S. Paulo, publicada nesta quinta-feira.

Leia aqui a íntegra da entrevista:

Para ouvir, clique aqui:

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Confira abaixo um resumo:

Crise econômica

(…)  Nós discutimos no Brasil, com vários especialistas e com especialistas também de outras partes do mundo, que o Brasil sentiria muito pouco a crise, por algumas razões: porque a economia estava sólida, porque nós tínhamos diversificado as nossas exportações e porque os bancos brasileiros eram bancos que tinham muito maior solidez e muito maior controle do Banco Central.

(…) Porque nós tomamos medidas imediatas. Imediatamente, nós liberamos R$ 100 bilhões do compulsório, para irrigar o sistema financeiro. Logo em seguida, nós fizemos com que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal agilizassem ainda mais a liberação de crédito. Fizemos o Banco do Brasil comprar carteiras de bancos menores que estavam prejudicados, fizemos o Banco do Brasil comprar a Nossa Caixa, em São Paulo, e comprar 50% do Banco Votorantim. E por que nós fizemos isso? Porque era preciso que os bancos públicos entrassem em outra fatia do mercado. Eles não tinham expertise. Então, nós precisávamos comprar para começar a financiar, por exemplo, carro utilizado [usado].

Uma das coisas que eu tenho dito a minha inconformidade nos debates com os empresários – você já deve ter assistido – é que houve nos meses de novembro e dezembro uma parada brusca de alguns setores da economia, na minha opinião, desnecessária. Alguns setores empresariais resolveram colocar um breque de forma muito, mas muito rápida, sobretudo se você começar pelo setor automobilístico, que seguia orientação das matrizes, que estavam em uma situação muito delicada. Tinham um estoque razoável, nós estávamos em uma situação privilegiada de produção e de venda de carro, de repente, a indústria automobilística parou.

Ora, quando a indústria automobilística para, para uma cadeia produtiva que representa 24% do PIB industrial brasileiro e outros setores que tinham, inclusive, já empréstimos assegurados com o BNDES pararam, porque ninguém sabia o que ia acontecer. Ora, quando isso aconteceu, o que nós fizemos? Nós resolvemos tomar as decisões que tínhamos que tomar aqui. Fizemos as desonerações que tínhamos que fazer, fizemos a liberação do financiamento, o Meirelles colocou dinheiro da nossa reserva para facilitar os nossos exportadores e depois nós descobrimos uma outra coisa grave, que eram os derivativos feitos por algumas empresas que não pareciam que faziam derivativos. E aí foi um outro problema que nós tivemos que conversar com empresa por empresa, cuidar de discutir como financiar, como evitar que algumas empresas quebrassem e colocamos o BNDES em ação.

Eleições 2010

Olha, não estava em discussão quem era PT mais puro-sangue ou menos puro-sangue. Não era uma questão de sanguinidade que estava sendo discutida, era uma questão de viabilidade política. Porque a Dilma é, na minha opinião, a mais competente gerente que o Estado brasileiro já teve. A capacidade de trabalho da Dilma, a competência dela e o passado político dela e o presente, me fazem garantir que a Dilma é uma excepcional candidata a presidente da República. A Dilma, além de ser uma extraordinária gestora, a Dilma é um extraordinário quadro político. Ela é um quadro político excepcional, tem firmeza ideológica, tem compromisso, tem lealdade, sabe o lado em que está. Por isso ela foi escolhida. Muito preparada para presidir o Brasil, muito preparada. E hoje conhece o Brasil como ninguém.

Deixe-me falar uma coisa. Porque uma mulher que tem a personalidade que a Dilma tem, e eu conheço bem a personalidade dela, vai exigir que eu tenha o bom senso que eu tive quando elegi o Meneguelli presidente do Sindicato de São Bernardo e quando elegi o Zé Dirceu presidente do PT: rei morto, rei posto. A Dilma, no governo, ela tem que criar a cara dela, o estilo dela e o jeito dela governar. Rei morto, rei posto, meu filho.

(…) Mas eu vou dizer para você uma coisa: a Dilma vai surpreender este país. Quem pensa que a Dilma é uma mulher grosseira, uma mulher dura, depende… Se você, na sua casa, for com uma gracinha que desgoste a sua mulher, ela vai te dar um tranco; mas se a conversa for séria, ela não vai dar. E a Dilma tem toda a clareza disso.

Amadurecimento

A pessoa aprimora. Eu vou te contar um detalhe: naquela campanha, por exemplo, eu passava o tempo inteiro falando, a minha vida inteira, vou fazer reforma agrária radical, ampla e radical sob o controle dos trabalhadores. Nós fizemos uma pesquisa e 85% do povo achava que a reforma agrária tinha que ser pacífica. Eu levei mais de 15 dias para que a minha boca pudesse proferir a palavra reforma agrária tranquila e pacífica. Essas mudanças têm que ter.

Crise no Senado

O PT teve um candidato ao Senado, que foi derrotado. Eu não entendia por que os mesmos que elegeram o Sarney, um mês depois queriam derrotá-lo. Coincidentemente, o vice não era uma pessoa que a gente possa dizer que dá mais garantia ao Estado brasileiro do que o Sarney. A manutenção do Sarney era uma questão de segurança institucional. Você viu que o Senado está calmo, está funcionando. Porque muitas vezes, Kennedy, é preciso que a gente trabalhe com juízo. O que eu acho importante em um presidente da República é que ele… Qualquer cidadão, você, o Franklin Martins, um empresário, qualquer um pode perder a cabeça. Um presidente da República não pode perder a cabeça.

Eu acho que se o Sarney caísse… porque teve muita coisa estranha, que eu não vou entrar em detalhes, porque isso acabou. Mas é engraçado, é que o DEM governou a Casa durante 14 anos, na Primeira Secretaria, isso não aparecia. Obviamente que a queda do Sarney era o único espaço de poder que a nossa oposição tinha. E aí iriam querer fazer, em vez de governabilidade, um inferno neste país. Então, eu acho que foi correta a decisão de manter o Sarney no Senado.

É que eu acho que ninguém… é verdade que ninguém está acima da lei. Mas também é importante que a gente não permita a execração das pessoas por conveniências eminentemente políticas. O Sarney foi presidente deste país, e eu acho que os ex-presidentes precisariam ser tratados como ex-presidentes, respeitados, porque essas pessoas foram instituições brasileiras. E eu achava que você não poderia banalizar a figura de um ex-presidente, porque a negação da política, Kennedy, o resultado, o que vem depois da negação da política que é pior do que o que a gente tinha. O mundo está cheio de exemplos para a gente poder.

(…)  Mas eu estou querendo dizer que a relação com a política é que tem que ser uma coisa mais séria. Não adianta a gente ficar falando mal do Congresso Nacional. O Congresso Nacional é a cara do povo que foi votar no dia 3 de outubro. O que é importante é que a democracia garante que a cada quatro anos você troque.

Política internacional

Muito pelo contrário, eu não estou preocupado, sabe, nem com os judeus, nem com os árabes nesse negócio. Eu estou preocupado é com a relação do Estado Brasileiro com o Estado Iraniano. Nós temos uma relação comercial, queremos ter relação política e eu disse ao Presidente Obama, disse ao Presidente Sarkozy, disse à Primeira Ministra Angela Merkel, que a gente não vai trazer o Irã para boas causas, se a gente vai ficar encurralando ele na parede. É preciso criar espaço para conversar.

(…) Não, eu não quero me opor a Washington. Pelo contrário, pelo contrário. Quando eu propus a criação do Conselho de Defesa e quando eu propus a criação do Conselho de Combate ao Narcotráfico, Kennedy, é porque eu tinha duas coisas na cabeça: primeiro, nós precisamos nos transformar em uma zona de paz, efetivamente. Segundo, é preciso que a gente assuma a responsabilidade, enquanto América do Sul, de combater o narcotráfico, porque aí a gente vai permitir que os países consumidores cuidem dos seus consumidores.

Imprensa brasileira

(…) Estou convencido de que a imprensa nacional conhece melhor o País, até porque tem obrigação de conhecer. Mas às vezes eu vejo o comportamento de algum setor da imprensa muito ideologizado. Eu, Kennedy, você sabe que eu sou amante da democracia e sou amante da liberdade de imprensa. A maior alegria que eu tenho é que os leitores, os telespectadores e os ouvintes são os únicos censores, censuradores, que eu admito para os meios de comunicação. Eu acho que o papel da imprensa não é fiscalizar, o papel da imprensa é informar, informar.

Para ser fiscal, tem o Tribunal de Contas da União, tem a Corregedoria, tem um monte de coisas. A imprensa tem que ser o grande órgão informador da opinião pública. E essa informação, essa informação, pode ser de elogio ao governo, pode ser de denúncia ao governo, pode ser de neutralidade, pode ser de outros assuntos que não seja o governo. A única coisa que eu peço a Deus é que a imprensa informe da forma mais isenta possível. E, aí, as posições políticas sejam colocadas nos editoriais.

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